O (re) início do semestre 2020.1 na UFSC: palavras à Comunidade do CFH
Caras alunas e alunos, técnicas e técnicos-administrativos, professoras e professores do CFH,
Na próxima segunda-feira, dia 31 de agosto, retomamos as atividades de ensino relativas ao semestre 2020.1, suspensas em março dada a Pandemia de Covid-19 que desde o início do ano maltrata e ameaça a vida das pessoas, no mundo e no Brasil. Começaremos então aquele que deverá ser o mais difícil semestre acadêmico para todos nós. Será difícil não por qualquer razão interna à UFSC, mas porque as condições mesmas do Mundo, do País, do Estado e do Município são condições jamais vividas por nenhuma das gerações com as quais compartilhamos esse triste momento histórico.
Em março, quando a Pandemia se intensificou no Brasil e, em seguida, em Florianópolis, a UFSC tomou acertada decisão, suspendendo suas atividades presenciais em seus campi, contribuindo, assim, para o controle da epidemia.
No CFH, somos quase 3 mil pessoas, entre estudantes, servidores técnico-administrativos e docentes, e pessoal terceirizado. É de se imaginar que estejamos todos com saudades dos encontros nas salas de aulas, secretarias, portarias, centros acadêmicos, núcleos, gabinetes docentes, laboratórios, corredores, no hall, xerox, bosque, cantina, MArquE, SAPSI, planetário, estacionamento do CFH, RU, BU, Saramago, no ponto de ônibus, enfim, em todos espaços de interação que nos constituem e que são por nós constituídos. Estamos com saudades do aperto de mão, do abraço afetuoso e do aceno sincero nas chegadas e despedidas no CFH. E das árvores do bosque que nos acolhem e refrescam nos dias quentes de verão. Temos, sim, saudades de nos aquecer ao sol nos dias frios, sentados nos banquinhos do CED e do CFH. E do burburinho dos estudantes nas aulas, nos gramados e nos pátios do CFH. Estamos com saudades das relações reais, presenciais, entre as pessoas. Estamos com saudades de nós e daquilo que nos faz o que somos: as relações.
Infelizmente, ainda não poderemos voltar a esta saudosa realidade. O drama desta Pandemia, as quase 120.000 mortes no Brasil, e o mal-estar que nos causa, ainda não estão superados. Longe disso. Estão à nossa volta, e continuarão sendo as marcas de nosso entorno por um bom tempo, como se aguardassem em tocaia novas vítimas desatentas, descuidadas. Por isso, não podemos descuidar, não podemos deixar de ter atenção.
Assim, depois de tanto discutir, debater, pensar, refletir e avaliar riscos, a UFSC decidiu retomar o semestre interrompido e, mais uma vez, de forma consequente e respeitosa com a vida das pessoas, decidiu (re)iniciar o semestre de 2020.1 apenas de forma não presencial. Durante todo esse tempo, as decisões tomadas não foram, não são e não serão fáceis, nem seus desdobramentos e consequências. Não tenhamos ilusões. As dificuldades não cessaram e os próximos dias e semanas mostrarão uma Universidade navegando no desconhecido e inventando meios possíveis para cumprir seu papel constitucional e seu compromisso político de formar estudantes com qualidade, pesquisar com competência e comprometer-se com a sociedade e a instituição, com seriedade e responsabilidade.
Nestes cinco meses de interrupção das aulas, disputamos interpretações e nos esforçamos para garantir aquilo que cada sujeito, cada grupo, cada representante considerava ser o mais justo e o melhor para toda a nossa comunidade, do CFH e da UFSC. À custa, chegamos na UFSC a algum consenso sobre a retomada. Mas ainda há muito por fazer para que nenhum estudante fique para trás! Estamos empenhados e continuaremos lutando para que essa seja uma ideia para valer, um princípio maior que se materialize em toda forma possível de auxílios e apoios efetivos da Instituição, para que ninguém deixe a UFSC por falta de meios mínimos à continuidade de sua formação.
E para que isso se realize, há por trás um trabalho hercúleo de toda comunidade do CFH. Técnicas e técnicos-administrativos, coordenadoras e coordenadores de cursos, chefes de departamentos, bolsistas, docentes, a equipe da Direção do CFH, muitos têm se empenhado para realizar o melhor que podem, têm vencido seus limites de conhecimento, de cansaço físico e de abatimento moral; têm trabalhado, muito mesmo, uma enormidade. Por isso, estamos agradecidos pelo empenho de todas e todos para podermos recomeçar, mesmo nestas condições que não são, sabemos, as ideais, mas, são as condições reais que conseguimos produzir até agora.
Muitos de nós ainda estamos nos preparando. São oficinas, cursos e mais cursos para aprender, em tempo recorde, as novas formas da vida digital; para adaptar o trabalho, antes tão bem conhecido, a esses novos meios e formatos, para criar soluções ainda não pensadas para os novos problemas, alguns sequer imaginados.
Os estudantes também serão desafiados quando as atividades “síncronas e assíncronas” iniciarem nesta próxima semana. Nem as condições necessárias estão completamente efetivadas, nem sabemos como tudo será de antemão, pois, sem ter jamais realizado tarefas deste tipo, nada realmente se sabe. Apenas imaginamos. Imaginamos, então, que tudo sairá bem; e se não sair, imaginamos que poderemos, em prazo curto, encontrar soluções.
Neste sentido, talvez, seja melhor falarmos mais propriamente em iniciar do que em reiniciar, pois em março passado a vida era outra e o que começa nesta segunda-feira é inteiramente novo para todos nós. Temos esperança que todos nós, das três categorias que formam essa admirável comunidade humana no CFH, teremos também calma e serenidade para atravessar esse momento desconhecido, e a humildade necessária para admitir que estaremos aprendendo todos juntos. Nunca a ideia de aprender fazendo foi tão verdadeira.
Tudo isso é e será difícil, por vezes doloroso. No entanto, poderá ser também um desafio – não no sentido do ideário individualista de “limites a serem superados” – mas como enfrentamento à ideia de que existiriam verdades absolutas, saberes inquestionáveis e práticas indiscutíveis, como aquelas em que acreditávamos antes da Pandemia, e que, queiramos ou não, foram todas colocadas em xeque por uma estrutura tão simples, porém tão letal, como a de um minúsculo vírus, antes desconhecido.
Vamos iniciar nesta segunda-feira sabendo que nada está pronto, que tudo está apenas começando, e que a UFSC ainda tem muito a fazer para que nenhum estudante fique para trás. E que todo nosso desafio nos sirva para que nos convençamos, agora, sim, definitivamente, que só existimos, de fato, como coletividade solidária.
Bom começo de 2020.1 para todos nós e sigamos solidárias e solidários.
Miriam Hartung – Diretora do CFH