Nota de Repúdio e Apoio ao Manifesto das Mulheres Indígenas do Brasil contra a morte da jovem Daiane Kaingang

06/08/2021 19:03

A direção do Centro de Filosofia e Ciências Humanas expressa apoio à manifestação da Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica da UFSC a respeito do assassinato brutal de jovem indígena no Rio Grande do Sul.

A Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica da Universidade Federal de Santa Catarina vem a público manifestar sua total indignação com o ato de extrema violência contra a vida da jovem Daiane Kaingang de apenas 14 anos. Daiane foi brutalmente violentada, assassinada e teve seu corpo dilacerado na tarde do dia 04 de agosto na Terra Indígena Guarita, Rio Grande do Sul. O crime praticado contra as mulheres indígenas é inaceitável e deve ser investigado e punido. A violência contra os povos indígenas e as mulheres indígenas em especial é um triste marco da história.

Basta de violência!
É preciso que todes lutem contra a violência e a favor da vida indígena.
Vidas indígenas importam!
Daiane Kaingang, presente!

Florianópolis, 05 de agosto de 2021.

Coordenação Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica
Universidade Federal de Santa Catarina
Juliana Salles Machado
Evelyn Schuler Zea
Maria Dorothea Post Darella
Natalia Hanazaki
Murilo Mariano

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Manifesto das Mulheres Indígenas do Brasil contra a barbárie cometida à jovem Daiane Kaingang, de 14 anos.

A Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), viemos por meio deste manifesto repudiar e denunciar o crime de barbárie cometida na tarde desta quarta-feira (04), no Setor Estiva, da Terra Indígena do Guarita, no município de Redentora, contra a jovem de apenas 14 anos, Daiane Griá Sales, indígena Kaingáng, moradora do Setor Bananeiras da Terra Indígena do Guarita. A jovem Daiane foi encontrada em uma lavoura próxima a um mato, nua e com as partes inferiores (da cintura para baixo) arrancadas e dilaceradas, com pedaços ao lado do corpo.

Temos visto dia após dia o assassinato de indígenas. Mas, parece que não é suficiente matar. O requinte de crueldade é o que dilacera nossa alma, assim como literalmente dilaceraram o jovem corpo de Daiane, de apenas 14 anos. Esquartejam corpos jovens, de mulheres, de povos. Entendemos que os conjuntos de violência cometida a nós, mulheres indígenas, desde a invasão do Brasil é uma fria tentativa de nos exterminar, com crimes hediondos que sangram nossa alma. A desumanidade exposta em corpos femininos indígenas, precisa parar!

Estamos aqui, reivindicando justiça! Não deixaremos passar impune e nem nos silenciarão. Lutamos pela dignidade humana, combatendo a violência de gênero e tantas outras violações de direitos. As violências praticadas por uma sociedade doente não podem continuar sendo banalizadas, naturalizadas, repleta de homens sem respeito e compostura humana, selvageria, repugnância e macabrismo. Quem comete uma atrocidade desta com mulheres filhas da terra, mata igualmente a si mesmo, mata também o Brasil.

Mas saibam que o ÓDIO não passará! Afinal, a violência praticada não pode passar impune, nossos corpos já não suportam mais ser dilacerados, tombado há 521 anos. Que o projeto esquartejador empunhado pela colonização, violenta todas nós, mulheres indígenas há mais de cinco séculos.

Somos 448 mil Mulheres Indígenas no Brasil que o estrupo da colonização não conseguiu matar e não permitiremos que a pandemia da violência do ódio passe por cima de nós.
Parem de nos matar! A cada mulher indígena assassinada, morre um pouco de nós.

Vidas indígenas importam. Gritaremos todos os dias, a cada momento, vidas indígenas importam. E a vida de Daiane importa. Importa pra sua família, para seu povo. Importa para nós mulheres indígenas.

Somos todas Daiane Griá Kaingang!
Exigimos justiça!

Assinam o manifesto: ANMIGA – APIB – ARPINSUL

Leia nota completa da Anmiga (@anmiga): https://bit.ly/JustiçaDaiane